sexta-feira, 4 de junho de 2010

Olhos

A primeira vez que a viu ainda era pequena: deitada em sua cama tentando dormir, ela viu a mulher aparecer na porta do quarto, metade do corpo coberto pela parede, muito branca e mirando-a fixamente sem olhos. A menina fechou os olhos e rezou para que aquela mulher sumisse, mas ela continuava lá quando a menina voltava a olhar. Como isso se repetia, seus pais levaram-na ao médico, que receitou remédios para fazer desaparecer a assustadora mulher. E por um longo tempo ela se foi.

Em sua adolescência, e já sem remédios há algum tempo, a mulher apareceu novamente, agora a meio caminho entre a porta e a cama, ainda com dois buracos na face, ainda fitando-a. Apavorada, a jovem voltou ao médico, que novamente receitou-lhe medicamentos. Após um tempo de desespero, mais uma vez a mulher sem olhos desaparecia sem deixar vestígios.

Agora casada, a mulher voltara, dessa vez com o rosto quase colado no dela, os buracos parecendo sugar-lhe a alma. Mas agora os remédios não tiveram efeito algum.

Foi numa noite em que dormia sozinha que chegou ao limite. Alucinada, arrancou os próprios olhos para nunca mais ter de ver aquela coisa terrível outra vez.

O marido ainda chegou a tempo para salvá-la da hemorragia. Mas seus olhos extraídos nunca foram encontrados.

3 comentários: