segunda-feira, 21 de junho de 2010

O cavalo

Esses dias eu voltava pra casa quando me deparei com um cavalo comendo o lixo do meu prédio. Era um cavalinho muito magro, do pelo marrom cheio de falhas, a crina grande caindo triste pro lado. Fiquei com pena daquele pobre animal e perguntei se ele não queria subir para comer algo decente. Ele me olhou com os olhos marejados e aceitou de pronto meu convite.

Lá em cima esquentei o que sobrou do almoço e dei pro cavalinho, que comeu vorazmente. Depois de satisfeito, contou-me sua tragédia: vinha de uma fazenda do interior, onde vivia com sua família. Mas quando uma seca levou tudo, só restou ao cavalinho uma promessa de trabalho na cidade grande. Acontece que o tal trabalho era o de carregar uma carroça, e todo dia ele era espancado pelo carroceiro para que trabalhasse melhor. Cansado de apanhar, decidiu largar o emprego, e agora não tinha nem o que comer, nem como voltar pra o interior.

Comovido, dei-lhe dinheiro para que comprasse uma passagem de volta. O cavalinho, chorando, abençoou-me, e foi para a rodoviária, comprar sua tão sonhada passagem.

Dias depois, estava indo comprar pão quando vi o mesmo cavalinho, sentado no chão com os olhos vermelhos, uma garrafa de cachaça do lado. Nossos olhares se cruzaram rapidamente, mas ambos, condescendentes um com o outro, fingimos não nos ver.

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