segunda-feira, 1 de julho de 2013
Arte
quinta-feira, 31 de maio de 2012
Formador
domingo, 4 de dezembro de 2011
Visão do Paraíso
A obra do meu falecido amigo Ricardo Narciso tem sido muito comentada atualmente, gerando uma infinidade de opiniões sobre seus textos. Alguns o consideram violentamente progressista, ou corajosamente reacionário, ou um apolítico irônico. É igualmente metafísico e materialista; experimental e conservador; um elevado esteta e um chulo inconsequente.
“Contraditório” é a leitmotiv dos detratores de Narciso. Para eles, tal defeito se deve à incapacidade do artista em lidar com a imensa variedade de sua própria obra. Dessa forma, teríamos várias aberrações, como o “clássico” ensaio sobre a relação da diáspora palestina e as comédias nonsense.
Há, contudo, aqueles que preferem “contradição”: o que Narciso realmente faz é um ataque constante à própria obra para tratar da impossibilidade atual de se chegar a uma Verdade. A contradição seria, portanto, não um defeito, mas sim o elemento formal que rege toda a obra do autor.
Tenho minha própria interpretação, biográfica, por assim dizer, baseada numa história interessante que Narciso me contou. Disse que caminhava aleatoriamente quando, sem querer, olhou para uma pessoa que vinha em sua direção e percebeu que era um anjo; entendeu isso quando, ao cruzar olhares com esse ser, pôde ter, por um milésimo de segundo, uma visão do Paraíso refletida em seus olhos.
Creio que esta seja a verdadeira chave para a sua obra. Embora ele nada tenha me dito, acredito que tal visão modificou meu amigo para sempre. Tendo consciência de que seria impossível representar o que vira, Narciso dedicou sua obra pós-encontro a ser um monumento da ruína. Atacando a tudo e, sobretudo, a si mesma, a obra de Narciso procura ser um espelho ao inverso da perfeição e ordem do Paraíso divino; e assim, o que meu amigo tenta dizer é que algo sublime também (ou só) pode ser humanamente construído por meio da destruição.
sexta-feira, 13 de maio de 2011
Biografia pequena de Rodolfo Párrega – (Perspectiva)
Rodolfo Vicente dos Santos Párrega nasceu no dia 15 de outubro de 1965, em São Bernardo, SP. Aos três anos já havia lido toda a obra de Marx, Engels, Lênin e Tsé-tung, a maioria em francês e alemão. Em 69, diante da impossibilidade de lutar contra a repressão com os artigos que escrevia para vários jornais de São Paulo e do Rio, entrou para a luta armada.
Entre 69 e 71, participou de diversos assaltos a bancos, ataques a aeroportos, seqüestro de figuras importantes, e atentados a líderes militares, até que seu grupo foi descoberto pela polícia psiônica. Acabou preso, torturado e deportado para a Inglaterra, onde escreveu seu primeiro romance, Terra usurpada, amplamente elogiado pela crítica contemporânea.
Em 72, com sete anos, mudou-se para França e fundou um terreiro de candomblé, tornando-se pai-de-santo. Iniciou um romance com Anaele Zekri, ex-guerrilheiro argelino, e publicou Terreiro vermelho, seu romance de maior sucesso. Em 1973 Zekri foi espancado e morto por um grupo racista extremista, e Párrega publica o drama em dois atos Ódio ódio ódio.
Alguns meses depois, aos 8 anos, Rodolfo Párrega comete suicídio tomando um vidro inteiro de comprimidos para dormir. Ao invés de uma carta, deixa escrita apenas uma pequena nota: “Se realmente houvesse algo que valesse a pena ser dito, não haveria necessidade de dizê-lo”
Hoje em dia sua obra ainda é razoavelmente estudada, principalmente pelos especialistas dos cultural e genre studies. Outros, contudo, consideram sua produção datada e em vias de entrar no absoluto ostracismo, acusando seus defensores de promovê-la por puro interesse ideológico, e etc., etc., etc.
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
Representação
A forma como ela entrou definitivamente no círculo importante do mundo das artes plásticas foi através da sua técnica da “pintura da realidade”. Não se sabia muito bem como, mas com pincéis e tintas aparentemente comuns, ela era capaz de pintar não telas que se configuravam como cópias perfeitas do mundo real, mas o mundo real em si.
Obviamente, seu sucesso inicial foi estrondoso. Todos queriam comprar suas telas, ou, como na verdade eram chamados, seus “objetos”. Deu inúmeras palestras e conferências ao redor do mundo, expôs nas galerias mais importantes da época, reuniu vários seguidores, discípulos, simpatizantes. A crítica especializada (e a não-especializada, embora de maneira mais simplória/menos elitista, dependendo de quem via) falava em uma “efetiva superação do modelo platônico”, num “meta-realismo”, em “anti-mímesis”. Ouviu-se em vários momentos a palavra “revolução”, mais ainda a palavra “fama”, mas foi a palavra “dinheiro”, embora pronunciada poucas vezes, que teve o maior papel nesses acontecimentos.
A revolução, contudo, não veio, e sua obra logo se tornou datada. Atualmente poucas pessoas ouviram falar nela, e, embora sua arte ainda esteja presente nos museus, nem mesmo os poucos especialistas em sua obra são capazes de não confundi-la com as demais peças do resto do acervo arqueológico.