Entender
verdadeiramente a obra de um autor requer uma chave muitas vezes encoberta pela
própria obra; é o que acontece com H. P. Lovecraft. Textos como The Call of Cthulhu e Supernatural Horror in Literature
brilharam tanto em sua grandeza que ofuscaram os dois textos seminais da obra
do escritor: Pickman’s Model e Notes on Writing Weird Fiction.
O
que talvez tenha dificultado o reconhecimento da importância desses textos foi
a incapacidade, por parte dos leitores de Lovecraft, de considera-los em
conjunto, atentando assim para seus detalhes mais importantes. Vejamos: Notes..., um texto crítico, parece uma
espécie de manual de como escrever contos fantásticos. Principal argumento: o elemento vital de um
conto fantástico não é seu enredo, mas sim a atmosfera criada pelo narrador. Ou
seja, a qualidade do conto se deve mais a uma questão de técnica do que de
imaginação.
Já
Pickman’s Model conta a história de
um homem profundamente abalado pelas sinistras telas de um exímio pintor:
Pickman. Suas telas, extremamente realistas, versam sobre monstros horríveis. Contudo,
não é a temática das obras que desestabiliza o narrador, mas sim a incrível
técnica de Pickman; o realismo de suas telas se deve ao fato de que se
utilizava de modelos reais – monstros reais.
As
mãos do leitor atento começam a tremer, intuindo aonde quero chegar: a
excelência da obra do autor norte-americano é fruto dos modelos que ele – assim
como Pickman – tinha à disposição. O fato de que Lovecraft tivera diversas crises nervosas durante sua vida adquire extrema relevância: como mostra
sua literatura, o conhecimento do horror conduz à loucura. “Mas isso é
biografismo”, argumenta o leitor inquieto. Melhor assim. Dormirá melhor ao
fingir ignorar que, na submersa cidade de R'lyeh, o grande Cthulhu espera, dormindo, o dia em que acordará para
destruir a humanidade.
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