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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A revolução dos bichos

Conta-se que num futuro próximo os bichos, cansados de sua longa existência de exploração nas mãos dos homens, terão se organizado numa tentativa de revolução que demandava os direitos, agora não exclusivamente, humanos.

Assim aconteceu de nos zoológicos, nas fazendas, nas casas ou nas ruas os bichos se unificarem pela paralisação, até que suas exigências fossem cumpridas, das suas atividades, fossem estas as de entreter ou alimentar, ser amado ou maltratado.

Diante da declarada revolta dos bichos o mundo humano acabou por se atordoar, não tanto pelo medo do desastre, em termos de entretenimento, alimentação, saúde emocional e exercício de crueldade, que tal paralisação poderia ocasionar, mas mais pelo azedo incômodo que seria ter de mudar o lugar em que lenta e confortavelmente ele tratou de se acomodar.

Foi por isso que, após algumas poucas discussões jurídicas promovidas pelos fóruns internacionais, ficou decidido a inconstitucionalidade da revolução dos bichos.

O resultado disso nada teve de novo: uma repressão pacífica que começou com escudos se erguendo e terminou com os cassetes descendo.

E é por isso que num futuro não tão próximo ainda teremos coisas como bacon. Porque, desde aquele último dia de sua revolução, os bichos decidiram que, diante da inevitabilidade do golpe, melhor seria que este fosse apenas um, derradeiro.

terça-feira, 20 de abril de 2010

A revolução dos vivos

Num futuro próximo a ideologia terá tomado tamanha proporção e de tal forma convertido os fatos históricos em fatos naturais, que a ação revolucionária por excelência será uma recusa da própria natureza no que nela há de mais inevitável: a morte. Assim, várias pessoas que lutavam contra a ordem vigente do mundo simplesmente pararam de morrer.

Não demoraram para serem tachados de subversivos, e o discurso oficial pregou que ser imortal era ser contra o Estado. A imprensa, tentando colocar o povo contra os revolucionários, produziu uma série de reportagens que denunciava a falta de caráter destes. Criou-se um slogan: Imortalidade é imoralidade.

Apesar de tudo, o movimento não cessou, e pouco a pouco mais pessoas iam se juntando ao grupo, de modo que em algum tempo, finalmente conseguiram eleger um candidato do PI (Partido dos Imortais) a um cargo importante do governo, cheio de promessas de mudança.

E com ele, mais tarde, chegaram outros. Muitos outros. As mudanças prometidas, contudo, jamais chegaram.

Um dia descobriu-se que o líder do partido tinha câncer de estômago. Morreu em menos de dois meses depois de receber a notícia.