terça-feira, 20 de abril de 2010

A revolução dos vivos

Num futuro próximo a ideologia terá tomado tamanha proporção e de tal forma convertido os fatos históricos em fatos naturais, que a ação revolucionária por excelência será uma recusa da própria natureza no que nela há de mais inevitável: a morte. Assim, várias pessoas que lutavam contra a ordem vigente do mundo simplesmente pararam de morrer.

Não demoraram para serem tachados de subversivos, e o discurso oficial pregou que ser imortal era ser contra o Estado. A imprensa, tentando colocar o povo contra os revolucionários, produziu uma série de reportagens que denunciava a falta de caráter destes. Criou-se um slogan: Imortalidade é imoralidade.

Apesar de tudo, o movimento não cessou, e pouco a pouco mais pessoas iam se juntando ao grupo, de modo que em algum tempo, finalmente conseguiram eleger um candidato do PI (Partido dos Imortais) a um cargo importante do governo, cheio de promessas de mudança.

E com ele, mais tarde, chegaram outros. Muitos outros. As mudanças prometidas, contudo, jamais chegaram.

Um dia descobriu-se que o líder do partido tinha câncer de estômago. Morreu em menos de dois meses depois de receber a notícia.

Um comentário:

  1. Do jeito que você é, Lucas, me pergunto qual a simbologia do câncer de estômago (por que câncer, de estômago, por quê?). Zueira, nem é muito pelo seu jeito, mas sim pelo meu jeito também. Belo texto. A paz.

    ResponderExcluir