O
primeiro grande desejo de Adam Silverman foi ser enciclopedista.
Maravilhado, segundo ele mesmo, desde pequeno com a vasta biblioteca
paterna, sonhava em reunir tudo o que descobria naquele universo de
palavras num só local, compartilhando com os outros sua própria
euforia da revelação. As enciclopédias, contudo, já existiam.
Anos
mais tarde Silverman doutora-se em filosofia e passa a dar aulas em
uma universidade. Mais preocupado com a possibilidade de levar seus
alunos a aprenderem a pensar do que com a “produção intelectual”
propriamente dita, Silverman ainda segue os propósitos da juventude.
Entretanto, a pressão por parte de seus colegas de departamento e o
desinteresse generalizado dos alunos o levam a abandonar a carreira.
Some por algum tempo.
Volta
com um novo projeto: a montagem de grandes obras em formas de
musicais que são exibidos na Broadway. Sua estreia, com uma versão
das Confissões de Agostinho, é um grande sucesso de público
e crítica. A partir daí, faz várias adaptações aclamadas, a mais
famosa provavelmente a de Discurso do método, que inclusive
contou com Jude Law no papel do Cogito. Acredita finalmente
ter alcançado seu objetivo.
Seu
sucesso é destruído após uma ousada montagem do Alcorão, que,
auxiliado pelo clima político, desperta ódio em diversos setores.
Sofre um atentado que quase tira sua vida (cuja autoria foi assumida
por um grupo xiita) e pouco depois é processado por anti-semitismo,
apesar da sua ascendência hebraica.
Nunca
mais realiza montagens. No entanto, segundo revelaram alguns amigos
mais próximos, está trabalhando numa versão pornográfica de Ser
e Tempo, que deverá estrear ano que vem.
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