quinta-feira, 27 de maio de 2010

Quimera

Do meu pai eu dupliquei seus braços. Eram ágeis, precisos, decididos. Julguei também que me seriam úteis para me ajudar a levantar, caso caísse.

Pouco depois, dupliquei o coração da minha mãe. Em meu peito agora cabiam muito mais sentimentos do que eu poderia imaginar, muito mais vida.

Meu melhor amigo era muito corajoso, e aquilo me encantava. Com a duplicação do seu tórax aprendi a andar erguido, sem receio do que eu estava sendo.

Da minha primeira namorada, dupliquei suas pernas, longas, lisas, as mais lindas que existiam no mundo.

No final do colégio um professor em particular me ensinou muito quando dupliquei sua cabeça.

Essas foram as primeiras partes que dupliquei em mim de outras pessoas, e hoje, passados tantos anos, ninguém consegue mais distinguir a diversas partes de outras pessoas que compõem essa colcha de retalhos humana que sou.

No entanto, sei que poucas pessoas no mundo podem dizer que se conhecem tão bem quanto eu me conheço.

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