domingo, 29 de agosto de 2010

Salvacionismo

Os primeiros deles chegaram ao Velho Mundo montados em serpentes marinhas de centenas de metros e em gigantescos pássaros canoros, que já anunciavam, com seus assobios doces, um outro lugar onde a vida nunca era velha. A primeira coisa que fizeram foi mostrar aos tão civilizados europeus que aquele deus do qual eles tanto falavam ou não existia de fato, ou havia escondido um bocado de coisas dos seus filhos. Tudo é assim lá, disseram os primeiros deles, essa coisa que vocês chamam magia só existe onde ela não é possível.

Mas nem tudo foi novidade. Sentindo-se ameaçado, o Velho Mundo tentou combater aqueles que vinham de longe com suas armas, seu ódio e seu discurso alfabetizado. Mas logo outros vieram, montados em novos seres, com tintas a prova de balas, canções de guerra e chuvas, fogos e raios em suas mãos.

Logo seus inimigos caíram um a um, os mais fortes deles sendo devorados; porém seus aliados casaram-se com suas filhas e filhos. Os europeus perceberam que, de um modo ou de outro, eles eram um povo se miscigenava, e não viram outra opção além de se render e se unir. Mas não perceberam que, para eles, união era uma escolha e não uma obrigação.

Foi na liberdade da escolha que se amaram. E assim eles, de canto algum, nos salvaram da civilização.

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