Foi por um acaso que eu o achei, quando entrei, procurando fugir do calor, em um pequeno boteco no centro da cidade pra tomar uma coca. Caminhei até o balcão e pedi o refrigerante, que veio servido num porta-copos que julguei esquisito. Olhando-o melhor, vi que se tratava de um porta-copos muito mais requintado que o lugar supostamente teria, com o desenho de uma ilha pintado em aquarela, e, bordado em letras elegantes, as palavras “Clube da Utopia”.
Intrigado com aquilo, resolvi observar melhor o ambiente, e, para minha surpresa, vi os maiores líderes mundiais reunidos naquele boteco velho. Bebendo e fumando preciosidades, eles discutiam como cada um gostaria de ver seu país: um dizia que queria que lá só houvesse brancos; outro, que a industrialização chegasse a todos os setores; alguém disse que queria festa o ano inteiro; seu interlocutor, torcendo o nariz, queria que o cristianismo fosse levado a sério. Cada um construía sua utopia própria e imaginária, sem levar muito em conta qualquer maneira de torná-la real.
Após um tempo, finalmente notaram-me, e, vendo um novato, ficaram curiosos em saber minha utopia pessoal. Disse-lhes que era básica, uma sociedade justa, pacífica e igualitária, onde todos pudessem ser felizes de verdade. A resposta deles foi um olhar incrédulo, como se não conseguissem meu raciocínio; concluí perguntando, ora, não é esse o propósito da utopia original? Dessa vez os olhares ficaram neles mesmos, constrangidos, mas logo alguém pigarreou e a conversa voltou ao princípio.
Voltei alguns dias depois ao mesmo boteco, mas os líderes não estavam mais lá; acredito que o Clube não possua sede fixa. Contudo, minha coca foi servida num daqueles porta-copos esquisitos, só que um pouco diferente: a pintura da ilha era a mesma, o bordado agora dizia “Clube da Egotopia”.
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