quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Pandora

Ela era tão bonita que quando surgiu todos os homens solitários se apaixonaram. Loucos, cada um tentou o que pode para conquistá-la, doando-se no que mais tinha para provar seu amor: os poetas fizeram odes, os músicos canções; os comerciantes deram-lhe o que vendiam, os ricos o que compravam; os políticos fizeram-lhe promessas, os líderes cumpriram-nas; os ladrões deram-lhe todas essas coisas, os suicidas suas vidas.

Mas dela nenhum teve resposta; e, loucos, decidiram que somente destruindo uns aos outros terminariam com aquele silêncio. Assim, os poetas fizeram troças, os músicos paródias; os comerciantes cobraram caro, os ricos pagaram em dobro; os políticos difamaram, os líderes exploraram; os ladrões tiraram-lhes tudo, os suicidas mataram-se.

Ela, contudo, assistira a toda essa desgraça calada. Podia ser que não amasse ninguém, ou que amasse a todos; podia ser que fosse muito recatada, ou tão devassa que se deliciasse com a tragédia; podia mesmo ser que fosse muda ou que tivesse gritado, chorado e implorado para que eles parassem. O fato é que jamais se saberá. Pois aquilo que sem querer abrira no coração dos homens era tão podre que lhes devorara todos os sentidos.

2 comentários:

  1. Gostei muito! entendo como que os dois lados da moeda apesar de serem dois lados referem a uma mesma moeda e portanto uma mesma origem sentimental... congratulations pelo premio! André

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