O anjo Elzevar está desocupado, a única coisa que sabe fazer é levar mensagens mas não há mais mensagens para levar, e assim o anjo dá voltas remexendo no lixo do grande lixeiro municipal em busca de restos de comida e sobras de frutas: precisa comer algo. De noite fez o teste de percorrer a margem do rio como prostituto faz-tudo, e, de fato, sabe fazer muitas coisas e sua condição angélica o exime de qualquer escrúpulo moral; mas na maioria das vezes o encontro termina mal, por exemplo quando o cliente, antes ou depois, descobre que Elzevar não possui sexo: ao que lhe parece, em algumas ocupações o sexo é particularmente requerido, até mesmo indispensável. Para aplacar o cliente desiludido, Elzevar o mostra um pouco como voa, primeiro à direita, depois à esquerda, depois passa sobre sua cabeça e bagunça seus cabelos com uma rápida brisa; mas os clientes da margem do rio exigem algo de mais concreto do que uma exibição de levitação; um mordeu seu tornozelo em pleno voo, outro calvo e com peruca o chamou de sodomita e um terceiro o denunciou à polícia, baseado num artigo do Código Penal que proíbe exaltar a sedução e outros dois artigos do Código de Navegação Aérea relativos ao voo urbano sem documentos. Depois disso Elzevar teve de se mudar para outra curva do rio, perigosamente frequentada por famílias e pescadores com varas, inclusive de noite.
Juan R. Wilcock