Apesar dos numerosos estudos praticados até hoje, a arte da alquimia atingiu seu ápice uma única vez na história, na Espanha medieval. A trajetória dessa ascensão é revelada através de pequenas notas cifradas, que constituem o registro de toda a aprendizagem do sábio Álvaro Lúlio.
Aqueles capazes de ler as notas se admiram com um jovem autodidata perspicaz o bastante para desvendar os maiores segredos da alquimia. Sabe-se pouco, contudo, da vida do alquimista, embora se possa pescar um pedaço aqui e ali em seus textos: por exemplo, que ele nasceu e morreu em Maiorca.
A mistura cristã, judia e árabe característica da ilha foi essencial no desenvolvimento dos estudos de Lúlio: foi a partir de elementos dessas três culturas que ele pôde desvendar o princípio essencial da Arte: cada elemento ou processo do trabalho alquímico representa uma idéia; a partir de sua manipulação é possível concretizar um conceito abstrato.
Assim, ensina-nos Lúlio: o mercúrio significa essência, o enxofre poder, o ouro sabedoria; derreter quer dizer conhecimento, ferver purificação; e assim por diante. Após anos de pesquisa foi possível tamanho domínio desse princípio por parte do sábio espanhol, que ele foi capaz de chegar ao conceito do Absoluto e assim criar um deus vivo.
É nesse ponto que os textos de Lúlio são interrompidos, e nada mais se sabe dele. Sua morte é dada como certa, em 1374. Várias são as teorias que explicam seu desaparecimento; a minha, embora um tanto amarga, tem o mérito de ser original. Acredito que Lúlio foi morto pelo deus que criou. Este, movido pelo orgulho natural da sua raça, não pôde suportar a humilhação da sua gênese: sua mente insondável foi incapaz de aceitar que ela – divina e portanto perfeita – fosse fruto daquilo que há de mais contingente e falho em toda a criação.
é... o tal do ser humano tem uma coisa de criar sua própria destruição. mas talvez isso seja imprevisível na hora da criação.
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