Conta-se que num futuro próximo os bichos, cansados de sua longa existência de exploração nas mãos dos homens, terão se organizado numa tentativa de revolução que demandava os direitos, agora não exclusivamente, humanos.
Assim aconteceu de nos zoológicos, nas fazendas, nas casas ou nas ruas os bichos se unificarem pela paralisação, até que suas exigências fossem cumpridas, das suas atividades, fossem estas as de entreter ou alimentar, ser amado ou maltratado.
Diante da declarada revolta dos bichos o mundo humano acabou por se atordoar, não tanto pelo medo do desastre, em termos de entretenimento, alimentação, saúde emocional e exercício de crueldade, que tal paralisação poderia ocasionar, mas mais pelo azedo incômodo que seria ter de mudar o lugar em que lenta e confortavelmente ele tratou de se acomodar.
Foi por isso que, após algumas poucas discussões jurídicas promovidas pelos fóruns internacionais, ficou decidido a inconstitucionalidade da revolução dos bichos.
O resultado disso nada teve de novo: uma repressão pacífica que começou com escudos se erguendo e terminou com os cassetes descendo.
E é por isso que num futuro não tão próximo ainda teremos coisas como bacon. Porque, desde aquele último dia de sua revolução, os bichos decidiram que, diante da inevitabilidade do golpe, melhor seria que este fosse apenas um, derradeiro.