Joaquín Gómez era um grande
matemático. E como todo grande matemático, era também um filósofo. Consequentemente,
o que Gómez, no fim, buscava, era uma forma de transcendência, que, devido
talvez à influência do catolicismo (sempre ele), equivalia, para nosso
matemático, à felicidade da raça humana.
Assim, Gómez dedicou grande parte
de sua atividade intelectual a encontrar um caminho definitivo para a evolução
da humanidade. Este só poderia ser descrito, afinal, através da linguagem
matemática, a única que não permitiria dubiedade.
Cabe aqui, para não enganar o
leitor, um esclarecimento de ordem cronológica: Gómez era um contemporâneo
nosso, um “filho do século XXI”, se é que tal coisa existe.
De modo que o pensamento de Gómez
é uma resposta consciente a esse caldeirão fumegante de incertezas no qual
cozinhamos. Essa consciência é notável no método do matemático.
A partir de uma longa e minuciosa
pesquisa em inúmeros tratados de antropologia e filosofia, Gómez pôde chegar um
número de valores privilegiados e negados pela humanidade de maneira geral.
Transformados em elementos, tais valores puderam ser organizados na forma de
uma equação cuja raiz equivalia à felicidade eterna do ser humano.
Intitulado “O Teorema do
Progresso” (El Teorema del Progreso),
o tratado de Gómez que apresenta essa equação é uma obra-prima das ciências
humanas, matemáticas e da filosofia. Contudo, as editoras não pensaram assim. As
universitárias acharam a obra de Gómez uma “brincadeira positivista de mau-gosto”;
as comerciais nem se deram ao trabalho de responder.
Sem possibilidades de bancar ele
mesmo uma edição, e intentando atingir um público maior, sobrou a Gómez
publicar sua obra no formato de um blog. Atualmente, contudo, o link para a página está quebrado. Gómez
desapareceu, sua obra não pode ser mais lida, e a humanidade segue seu próprio
caminho, em direção a um abismo qualquer.