sexta-feira, 8 de abril de 2011

Ditadura

Naquele tempo os subversivos tinham muito medo dos infiltrados; mas isso somente porque eles não sabiam da existência da polícia psiônica.

Éramos peritos em certos tipos de habilidades como leitura de mentes, rastreamento psíquico, previsão do futuro, essas coisas. Uma operação bem organizada era capaz de detectar um grupo revolucionário, apreender seus planos e localizar sua sede em um pouco mais de uma semana, tempo impossível para qualquer polícia secreta. De modo que posso dizer sem exagero que fomos peça-chave para o sustento do estado de exceção por tanto tempo.

Nossa eficiência não permitiria jamais deixar de localizar um subversivo no centro da minha própria família.

Mas meu filho era, afinal, meu filho; e mesmo com uma série de golpes mentais e invasões telepáticas, não nos foi possível descobrir o núcleo de seu grupo paramilitar. Assim, foi preciso partir para a tortura física, até que sua mente ficasse enfraquecida o bastante para conseguirmos extrair a informação necessária.

Não lembro que desculpa dei (ou deram) à minha mulher. Só lembro que quando tudo aquilo acabou e voltei para casa, tentei chorar, mas não pude.

Hoje entendo que uma ditadura não tem a ver com sombras, silêncios, ou medo; uma ditadura é poder saber o que há de mais profundo e escondido nos outros, mas, quando olhar e procurar lá no fundo si mesmo, não encontrar nada além de um monte imenso, doente e pútrido, de vazio.

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