Desde que me lembro, nunca pude sonhar. Não sei se é uma doença, se me foi ensinado quando era criança, ou se é fruto de alguma evolução humana, dessas que nos fizeram ter menos dentes: talvez o sonhar tenha se nos tornado completamente inútil.
O fato é que meu sono, sem o sonho, é como que também ausente. Quando fecho os olhos, à noite, e os abro já de manhã, é como se nem um minuto tivesse passado; um espaço em branco no qual o tempo não consegue penetrar.
Dessa forma vivo numa existência contínua, sem nenhum intervalo do nada. Vejo tanta coisa, o tempo todo, que tudo já está embaraçado, e o que deveria ser real e nítido é para mim como uma neblina, um ar tão visível que não nos deixa ver nada.
Esse mundo embaraçado me faz perguntar se não sou somente o sonho do sonho de algum homem, que, por um limite de desdobramento, me impede de sonhar.