Por duas vezes Giorgos Dimitriou
pôde ver sua futura morte. A primeira delas ocorreu após ser recém-admitido em
uma orgulhosa escola teosófica de tradição grega devido ao seu incontestável
talento para as artes oraculares. Tal visão teria sido motivada por uma
arrogância e imaturidade comuns ao temperamento juvenil, e causou um impacto
igualmente condizente com tal gênio e com a natureza da informação.
Por muitos anos Dimitriou
esquivou-se da lembrança da visão, até que certa melancolia companheira da
meia-idade o levou a novamente encarar sua morte. Mas, surpreendentemente, a
forma do seu fim havia assumido uma aparência completamente diversa da que
possuíra anos atrás.
A segunda visão produziu-lhe um
impacto ainda maior. Sabia que o caminho de cada homem havia sido escrito pelos
deuses no Livro do Destino desde os tempos imemoriais. Como poderia, então, sua
morte ter mudado? Aquela dúvida abalou as crenças de Dimitriou, obrigando-o a
um enorme esforço reflexivo imerso na completa reclusão. Até que encontrou a
resposta.
Seu Destino não havia mudado, mas
sim o próprio Demetriou. As palavras no Livro eram as mesmas; sua leitura
delas, outra, uma vez que ele mesmo era outra pessoa: mais velho, mais maduro,
mais humilde.
À reflexão seguiu-se a especulação:
após alguns anos, Dimitriou sugeriu aos seus colegas da escola que o Livro do
Destino poderia ser, afinal, um texto de ficção: seus propósitos seriam
inúmeros, menos se referir diretamente à vida dos homens. Escandalizados, seus
pares gritaram que se assim o fosse, os deuses seriam mentirosos em vez de
deuses. Dimitriou respondeu que tratava do Livro e não dos deuses, mas não foi
ouvido: expulsaram-no por heresia.
Depois disso, Dimitriou se mudou
para a praia onde permaneceu até morrer, alguns anos mais tarde. A causa foi
câncer de pulmão, pois fumava demais e sempre tivera pavor de médicos.