sexta-feira, 17 de junho de 2011

Messias

Essa parece uma história de mau gosto, mas eu só posso dizer que é real. Um dia eu voltava do trabalho (sou carpinteiro, que ironia), quando fui interpelado por um cadeirante exclamando histericamente que eu era o messias. Sou ateu, e no início achei aquilo até engraçado, mas o homem estava tão convicto que abalou meu ceticismo. (Acho que no fim a credulidade depende mais da fé de quem fala do que da de quem ouve.)

De modo que falei, timidamente, “levanta e anda” e, vejam só, o sujeito realmente levantou e andou, me abraçando e chorando que aquilo era um milagre. Achei que fosse um golpe, mas ele me forçou a ir até um hospital público, onde curei uma grande quantidade de doentes e até multipliquei alimentos, pois estavam em falta.

A partir daí fui amado e odiado por alguns. Meus “discípulos” me seguiam pra onde fosse e pediam que eu lhes guiasse. Eu dizia “ como pessoal, se eu não sei o que fazer com a minha própria vida?” e eles entendiam e repetiam “sim Mestre, devemos ser bons uns com os outros!”. Meus “inimigos” diziam “que absurdo, um Jesus pardo!”, e eu dizia “Jesus? Nem eu acredito em Jesus!”.

Mas um dia os milagres pararam sozinhos e o povo parou de me importunar. Meus antigos seguidores (e detratores, provavelmente) transferiram sua fé para o Alacrenil, uns comprimidos vendidos na TV.

Por um tempo me perguntei qual a razão disso tudo. Não recuperei uma fé que nunca tive, nem fomentei uma fé que sempre tiveram. Tampouco ensinei algo relevante a alguém (e o que eu poderia ensinar, além de carpintaria?). Pode ser que no futuro a física, a sociologia ou a história expliquem meu caso. Mas eu, no presente, embora tenha vivido isso, não consigo encontrar sentido algum.

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