quinta-feira, 19 de maio de 2011

Ouroboros

Em 1672 foi publicada a obra do humanista Giovanni Feliciano, De Urobori Interpretatio, na qual o sábio se dedica a encontrar o significado divino do ouroboros, a serpente alada que devora a si mesma. Feliciano parte da interpretação clássica que via na imagem uma representação da infinitude, passando por aquela que privilegia a ação da passagem do tempo sobre o mundo, para daí chegar à conclusão de que o ouroboros representa a pura destruição das coisas, e, consequentemente, o Caos.

A obra exerceu enorme influência nos místicos de sua época, chegando mesmo a fomentar o nascimento de uma ordem totalmente consagrada ao hieróglifo, a Ordem dos Ouroboristas, que se dedicava unicamente, através de procedimentos mágicos, a promover o caos e a destruição das instituições do mundo. Contudo, logo perceberam que os procedimentos adotados não exibiam resultados satisfatórios, e decidiram tomar ações, por assim dizer, mais pragmáticas.

O resultado disso, embora bastante conhecido, é muito pouco reconhecido, já que suas evidências são muito bem camufladas. Por exemplo, sabe-se que Robespierre era um ouroborista, bem como Napoleão. Antes da suástica, o símbolo oficial do nazismo era o ouroboros. Derrida tinha uma primeira edição de De Urobori Interpretatio em sua biblioteca. Em um desses noticiários policiais popularescos, o repórter que entrevistava um estrangulador em série obteve como única resposta a exibição de um ouroboros tatuado.

Pode-se pensar que os ouroboristas fazem de tudo para esconder sua existência e suas intenções. Isso, obviamente, não passa de um erro grosseiro. Aos ouroboristas não interessa o mistério, tampouco a exibição; tudo o que eles buscam é o Caos, puro e destruidor. Por exemplo, você deve ter vindo até aqui esperando encontrar um texto ficcional; eu, no entanto, digo que tudo o que você acabou de ler é a pura verdade. Pronto: o Caos está lançado.

3 comentários:

  1. Caralho, muito bom hein.

    Fiquei meio refém de minha própria ignorância em relação a alguns nomes citados durante, mas a temática do texto em si é brilhante. E essa finalização provocativa foi extremamente interessante.

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