quinta-feira, 10 de março de 2011

Rosas

Duas coisas eram frequentemente comentadas na vizinhança sobre sua vida: como as rosas que plantava em seu jardim eram lindas apesar da terra pobre que em nada ajudava, e como sempre arrumava amantes violentos.

- Talvez as rosas sejam uma compensação que Deus lhe dá por ter de sofrer esse tipo de coisa, diziam os vizinhos quando escutavam as brigas que vinham de sua casa.

Ela, contudo, não aceitava esmola, mas sim pagamento. Pois o que eles não sabiam (embora o mencionassem como explicação absurda para aquele absurdo) era que ela escolhia a dedo os homens com quem se envolvia. Procurava sempre os piores, os mais vis, desonestos, covardes. Atraía-os para si e esperava até que chegasse o momento certo. Então punia sua violência com violência, cortando suas gargantas, perfurando seus corações, esfaqueando inúmeras vezes toda a extensão de seus corpos.

Em seguida levava seus corpos para o quintal e os enterrava. E daqueles pedaços de carne vinham o fertilizante que tornava as rosas tão fortes e o sangue que as fazia tão vermelhas.

Às vezes sentia-se cansada daquilo. Mas quando acordava pela manhã e via as pétalas vivas chorando orvalho dizia a si mesma.

- É um trato justo, Senhor.

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